A Coordenadoria de Unidades Prisionais da Região Nordeste do Estado de São Paulo acaba de divulgar balanço da ação educativa, busca ativa de casos de hanseníase e tratamento dos reeducandos do Centro de Progressão Penitenciária de Jardinópolis (SP). O trabalho iniciou em abril de 2016 e encerrou em maio deste ano com 18 reeducandos em tratamento e 14 já curados da doença.
O trabalho foi coordenado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) Marco Andrey Cipriani Frade e equipe de cinco médicos dermatologistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, Centro de Referência Nacional de Dermatologia Sanitária-Hanseníase (CRNDSHansen) e Secretaria Municipal de Saúde de Jardinópolis.
Foram realizados exames físicos, anamneses e coleta de exames laboratoriais em 1.261 reeducandos e cerca de 10 funcionários, com avaliação de características da pele, lesões, dermatoses, além de testes de sensibilidade e suor – o paciente de hanseníase não tem suor em algumas partes do corpo. Como a doença é de difícil diagnóstico, este é um teste que auxilia na avaliação clínica. Os exames médicos identificam apenas 50% dos casos. O diagnóstico depende de experiência e treinamento – por isso a SBH promove cursos gratuitos de atualização em todo o país.
Os casos diagnosticados clinicamente e confirmados com resultados de laboratório e biopsia foram notificados e os pacientes entraram em tratamento e acompanhamento mensal. No sistema carcerário, o contato prolongado possibilita a transmissão do bacilo que causa a hanseníase. Grande parte da população tem resistência natural contra a hanseníase, mas não há como saber quais são os indivíduos vulneráveis.
Balanço
No dia 25 abril, durante a Jornada de Cidadania e Empregabilidade, no Centro de Progressão Penitenciária de Jardinópolis (projeto da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo), foi apresentado o balanço da ação. A jornada objetiva levar para dentro do sistema prisional um mutirão de benefícios que auxiliam no processo de ressocialização dos reeducandos. Esse projeto também visa a criar parcerias com órgãos externos, mostrando para a sociedade que uma unidade prisional faz parte do contexto social e que os cidadãos, então privados de liberdade, voltarão a fazer parte da sociedade livre.
Antes da solenidade, o presidente da SBH, Marco Andrey, apresentou o trabalho o cenário da hanseníase no Brasil, país que ocupa o 2° lugar no ranking mundial da doença, atrás da Índia e concentra 90% dos casos de hanseníase das Américas. O evento contou com a participação de sentenciados e de autoridades da sociedade civil.
De março a outubro de 2016, 16 reeducandos estiveram em tratamento para hanseníase. Em novembro do ano passado mais 2 casos foram confirmados, sendo 18 pacientes em tratamento. Em dezembro, 7 tiveram alta. Em janeiro, outros 2 tiveram alta. Em fevereiro, mais dois pacientes estavam curados. Em março, outros 2 tiveram cura, restando 5 indivíduos em tratamento. Atualmente, apenas quatro internos continuam o tratamento com previsão de alta em breve.
A hanseníase tem cura e o tratamento pode durar 6 meses para pacientes com poucos bacilos ou um ano para pacientes com muitos bacilos. A doença tem cura. O tratamento seguido no Brasil todo é gratuito e recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
O tratamento da hanseníase é ambulatorial, utilizando os esquemas terapêuticos padronizados, e está disponível em todas as unidades públicas de saúde do país. A poliquimioterapia mata o bacilo e evita a evolução da doença, levando à cura. O bacilo morto é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica da doença. Assim, logo no início do tratamento a transmissão da doença é interrompida e, se realizado de forma completa e correta, garante a cura da doença.
Hanseníase no Brasil
A SBH alerta para a importância da parceria com a Secretaria de Segurança pública do Estado de São Paulo para o trabalho na unidade de Jardinópolis. “Esperamos que estre seja um exemplo e que outras organizações realizem ações de busca ativa, tratamento e esclarecimento sobre a hanseníase para seus públicos”, alerta Marco Andrey, da SBH. Segundo ele, a doença cresce silenciosamente em todo o país, independentemente de características econômicas, sociais ou étnicas.
“A família, os professores, as igrejas, a sociedade toda deve falar sobre a doença e esclarecer a população, pois temos visto em todo o país um aumento preocupante de crianças doentes menores de 15 anos com hanseníase e muitas ainda estão sem tratamento e sem sequer suspeitar da doença”, alerta o presidente da SBH.
Para popularizar o assunto, a SBH criou uma página educativa na rede social Facebook/todoscontraahanseniase. Por ano, mais de 30 mil casos da doença são notificados oficialmente no Brasil, mas a SBH estima que haja pelo menos de 5 a 10 vezes mais casos porque a hanseníase é uma doença negligenciada.
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