Sociedade Brasileira de Hansenologia classifica balanço nacional da hanseníase como “estarrecedor” e diz que há controvérsia entre realidade e dados oficiais
A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) classifica balanço nacional da hanseníase apresentado em reunião de coordenadores com o Ministério da Saúde como “estarrecedor”. Os dados epidemiológicos do ano de 2016 foram divulgados em Brasília, dia 21 de junho.
A SBH ressalta o que chama de “reduções absurdas” dos números que não “condizem com a realidade da evolução de uma doença crônica como a hanseníase e, lamentavelmente, nem refletem melhoria do nosso sistema de saúde brasileiro, em franca restrição orçamentária na atualidade”, analisa o presidente da entidade, Marco Andrey Cipriani Frade.
Em média, nos últimos cinco anos, o Brasil detectou 29.824 casos novos de hanseníase, sendo 2.167 em crianças menores de 15 anos. Assustadoramente, em 2016, houve uma redução de 11,9% em relação à média no número de casos novos de hanseníase (foram menos 4.600 casos) – uma diminuição de 19,2% em crianças menores de 15 anos (menos 471 casos). Considerando a prevalência (número de pacientes em tratamento) houve uma redução de 16% em relação à média, passando de 1,26 casos/10.000 habitantes para 1,1/10.000 em 2016. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a doença controlada em região onde o índice de prevalência é menos de 1 caso para 10.000 habitantes.
“Não desejamos o agravamento do quadro no país, entretanto, tais reduções são absolutamente paradoxais frente à evolução crônica da doença que leva de 3 a 5 anos para se manifestar, sendo impossível uma redução dessa monta. Outro ponto importante é avaliar a redução de quase 20% em crianças – considerando que o Brasil tomou como plano estratégico a Campanha de Hanseníase e Verminoses nas Escolas desde 2013, esperar-se-ia um incremento no número de casos em crianças tendo em vista o investimento em maior divulgação e busca ativa nessa população. Aumentando a controvérsia entre realidade e dados oficiais, a baixa vertiginosa da prevalência é outro fator que demonstra a fragilidade de nossos dados com uma redução de 16% em 2016 em relação à média dos últimos 5 anos”, ressalta Cipriani Frade.
Para o presidente da SBH, “os números referentes a 2016 lamentavelmente pouco nos dizem sobre a realidade da doença no campo, provavelmente por causa realidade de crise política e econômica que assola o país. Alguns fatores importantes podem ter influenciado significativamente na queda de tais números, como: demora na organização estrutural da Coordenação de Hanseníase e Doenças em Eliminação da Secretaria de Vigilância Sanitária – Ministério da Saúde, que ficara de julho de 2016 a janeiro de 2017 sem coordenador oficialmente; atraso no início da Campanha de Hanseníase, Verminoses e Tracoma nas Escolas, geralmente programada a iniciar em agosto e que, em 2016, somente se iniciara no findar do ano, terminando em junho de 2017, e a renovação administrativa que ocorreu em muitos dos municípios brasileiros após as eleições municipais de 2015 e início de mandatos em 2016, fatores esses que certamente influenciaram no ritmo de trabalho e organização de serviços para com as ações de busca ativa em hanseníase”.
A SBH alerta que frente a inúmeras dificuldades em divulgar a doença hanseníase para a comunidade e buscar aprimoramento dos profissionais de saúde para que pensem em hanseníase, essas situações somente levam a tornar a doença menos visível e consequentemente mais negligenciada.
Para reverter o quadro, a SBH criou a campanha nacional “Todos Contra a Hanseníase”, que já distribuiu o primeiro lote de cartilhas educativas em várias regiões brasileiras. A campanha tem comercial de TV e rádio, que estão sendo veiculados gratuitamente em várias emissoras brasileiras, está na rede social no link www.facebook.com/todoscontraahanseniase e tem, ainda, o mascote Profi, um boneco que se apresenta em congressos, feiras, praças públicas, escolas, empresas, hospitais etc. personificando a campanha com intuito de chamar a atenção da população para a hanseníase e diminuir o preconceito contra a doença.
Hanseníase tem cura e tratamento gratuito em todo o Brasil.
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