Lançada terceira turma de especialização em Hansenologia no Brasil

A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) começa a formar mais 21 hansenologistas para atuar no SUS no estado do Mato Grosso. 37 outros médicos já foram formados no estado em parceria com a Secretaria Estadual da Saúde.

Esta é a primeira iniciativa de sociedade médica no país nas últimas quatro décadas para formar especialistas em hansenologia. “A ideia é replicar o projeto em outros estados brasileiros. Trata-se de uma estratégia sustentável, com ações de curto, médio e longo prazos, para eliminar a doença como problema de saúde pública”, explica Marco Andrey Cipriani Frade, presidente da SBH. O Brasil é o segundo país em números absolutos de casos de hanseníase – o primeiro é a Índia.

Em todas as regiões brasileiras onde houve capacitação de profissionais de saúde para a hanseníase, o número de casos novos notificados cresceu substancialmente. “É preciso entender que há uma endemia oculta de hanseníase no Brasil e a estratégia passa pela formação de profissionais para aumentar os diagnósticos, tratar os pacientes, quebrar a cadeia de transmissão do bacilo e, finalmente, diminuir o número de casos no país”, explica Frade.

O Mato Grosso está na lista de estados com as maiores taxas de detecção de hanseníase no Brasil nos últimos anos. A doença é subdiagnosticada e frequentemente confundida com várias outras. A SBH alerta que regiões com alto número de diagnósticos estão no caminho certo para a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública em alguns anos. A preocupação recai sobre regiões sem registro da doença ou com poucos diagnósticos onde, certamente há pacientes sem tratamento e transmitindo o bacilo a seus comunicantes.

O Brasil enfrenta alguns agravantes neste cenário, como índice preocupante de casos em menores de 15 anos. Como a doença se manifesta após 3 a 10 anos de contaminação, as crianças estão convivendo com o bacilo de Hansen desde muito novas, provavelmente com familiares doentes sem diagnóstico e tratamento. Outro desafio é o diagnóstico precoce. O Brasil diagnostica tardiamente a doença, quando as sequelas são visíveis. A hanseníase é uma doença neural – o bacilo ataca e inflama os nervos e é nessa fase, antes do surgimento de sequelas, que as chances de cura são melhores. Hanseníase tem cura, mas o diagnóstico tardio nem sempre reverte sequelas em grau avançado.