Nota de Repúdio da SBH

A SBH distribuiu nota de repúdio pela decisão unilateral da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro que cancelou, por e-mail, nesta quinta-feira, 30/5, as ações da campanha "Todos Contra a Hanseníase" na comunidade da Rocinha.

Para ver o projeto original da SBH para a Comunidade da Rocinha CLIQUE AQUI

Para ver a Nota de Repúdio emitida pela SBH CLIQUE AQUI

Abaixo a transcrição da nota da SBH

A Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) foi surpreendida na manhã de hoje, 30 de maio de 2019, com comunicação via e-mail da Superintendência de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro cancelando evento da SBH com o Instituto contra a Hanseníase (AAL) e vários parceiros da comunidade da Rocinha, que aconteceria no período de 3 a 7 de junho de 2019, ou seja, em menos de quatro dias. A campanha “Todos Contra a Hanseníase”, que conta com divulgação maciça da doença na comunidade da Rocinha e em várias mídias do Rio de Janeiro, além de capacitação dos profissionais de saúde que atuam na comunidade, foi discutida exaustivamente com a própria Secretaria de Saúde do município do Rio de Janeiro, em reuniões presenciais que definiram desde a área de atuação até o cronograma do evento e as atividades que seriam realizadas, sendo todas devidamente aprovadas e constando em projeto de capacitação que colocamos à disposição do público.

O motivo alegado pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro foi o de que o projeto em questão teria características de “projeto de pesquisa” e que por isso teria que ser encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa. Estamos oferecendo gratuitamente pelo menos dois exames laboratoriais que não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), mas que nos permitem identificar melhor os casos e os seus comunicantes, e que são realizados de rotina nos seis centros de referência nacionais do Ministério da Saúde. Impedir, sob a égide de proteção ao usuário, que o público alvo da capacitação tenha acesso a estes exames que melhoram a qualidade do diagnóstico é insensato e desumano com a comunidade, além de a decisão da Secretaria Municipal de Saúde estar carregada de preconceitos derivados do alto estigma que a hanseníase provoca no seio da sociedade brasileira. Esperamos que esta situação funcione como uma centelha para uma ampla discussão sobre a falta de acesso das pessoas atingidas pela hanseníase a exames mais sofisticados e, portanto, de maior custo para o estado, mas que hoje não estão acessíveis. Finalmente, lamentamos também o bloqueio do acesso dos profissionais de saúde da Rocinha à capacitação em hanseníase, que levaria em última instância ao diagnóstico de novos casos, à melhoria do atendimento às pessoas atingidas pela hanseníase na comunidade e ao alerta sobre uma doença que permanece às sombras da sociedade.

Claudio Guedes Salgado
Presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia