
A doença
Em 1873, o médico norueguês Gerhard Armauer Hansen identificou o bacilo (trata-se de uma bactéria em forma cilíndrica) causador da hanseníase: o Mycobacterium leprae, também conhecido como Bacilo de Hansen.
A Lei nº 9.010/1995 proíbe o uso do termo "lepra" e seus derivados no Brasil nos documentos oficiais, substituindo-os por hanseníase e derivados.
Acesse a lei aqui
Avaliação
O médico realiza avaliação dermatológica e neurológica para verificar lesões cutâneas, alterações de sensibilidade e comprometimento dos nervos.
A consulta envolve:
O médico pode solicitar exames de baciloscopia (detectar presença do bacilo de Hansen), testes moleculares para detectar o DNA do bacilo, ultrassom de nervos periféricos e eletroneuromiografia.
Um teste importante é feito com monofilamentos de náilon: são seis fios — de 0,007 g, 0,2 g, 2 g, 4 g, 10 g e 300 g — usados para pressionar a pele e avaliar o grau de perda de sensibilidade. Conforme a evolução da doença, pode haver perdas graduais e até total de sensibilidade em certas áreas.
É obrigatória a avaliação dos contatos familiares de todos os pacientes diagnosticados com hanseníase.
Outras doenças
A hanseníase é, com frequência, confundida com outras doenças que cursam com dor, como artrite, artrose, fibromialgia, síndrome do túnel do carpo, neuropatias, entre outras.
Tratamento
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa e tem cura. O Brasil oferece tratamento pelo SUS com a Poliquimioterapia (PQT), um coquetel de antibióticos.
O diagnóstico é clínico — o médico avalia um conjunto de sinais e sintomas para confirmá-lo. O bacilo causa inflamação nos nervos e, por isso, os especialistas afirmam que a hanseníase é uma doença primariamente neural. É nessa fase que o paciente tem mais chances de cura sem sequelas.
Com o passar dos anos, a hanseníase pode se manifestar na pele — com manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, escassez de pelos e comprometimento da sensibilidade
nessas áreas, além de deformações nas mãos ou mãos em garra (curvatura ou torção dos dedos em forma de garra). O paciente pode sentir dores, formigamentos, áreas dormentes na pele, apresentar caroços pelo corpo, além de lesões inflamadas e caroços na pele mais tardiamente.
A OMS distribui a PQT gratuitamente, mediante solicitação, para os países onde a hanseníase ainda é problema de saúde pública. Pacientes com poucos bacilos (paucibacilares) são tratados por seis meses; os multibacilares, por doze meses.
Os antibióticos da PQT são utilizados há 40 anos. Já existem cepas resistentes (resistência antimicrobiana), e preocupa o percentual de casos de falência de tratamento (quando o paciente termina o ciclo, mas ainda apresenta bacilos vivos) ou de recidiva (retorno da doença após um período de aparente cura).
Eliminação da hanseníase como problema de saúde pública
A hanseníase não pode ser erradicada porque o bacilo continua existindo na natureza, mas pode ser “eliminada como problema de saúde pública” com aumento de diagnósticos e tratamento.
Custos da hanseníase
Estudo conduzido em Ribeirão Preto por pesquisadores das Faculdades de Medicina e Economia da USP analisou os custos associados à hanseníase no Brasil, incluindo os gastos do INSS com benefícios temporários e permanentes. O montante pago pelo INSS em benefícios previdenciários relacionados à hanseníase aumentou significativamente entre 2006 e 2019: os pagamentos totalizaram R$ 5 bilhões nesse período, para uma doença tratável e curável.
Doença negligenciada
Segundo a OMS, existem 20 doenças negligenciadas. A hanseníase é uma delas. São doenças preveníveis ou tratáveis e que podem ser curadas, que ocorrem em diversos países, especialmente afetando mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, geralmente populações isoladas, marginalizadas, vulneráveis, que vivem em comunidades pobres e famílias que vivem em periferias, com dificuldades de acesso a alimentação, saúde, água potável, educação etc.
Números
O Brasil (população de 211,1 milhões) é o segundo país com mais casos de hanseníase — o primeiro é a Índia (população de 1,4 bilhão). No entanto, o Brasil já ocupa o primeiro lugar em taxa de detecção da doença (percentual de novos diagnósticos a cada 100 mil habitantes).
Antes da pandemia, o Brasil diagnosticava cerca de 30 mil casos por ano — número semelhante ao de diagnósticos de HIV e AIDS. Após a pandemia, os diagnósticos despencaram mais de 35%, não por redução de casos e, por isso, a SBH defende ações para ampliação dos diagnósticos a fim de tratar o máximo possível de pessoas afetadas pela hanseníase.
Em 2023, foram registrados 22.773 novos casos, segundo o Boletim Epidemiológico da OMS — um aumento de 4% em comparação com 2022.
Subdiagnóstico e endemia oculta
A SBH alerta para uma endemia oculta de hanseníase no Brasil: há de 3 a 5 vezes mais casos sem diagnóstico nem tratamento, porque a doença ainda não está sendo "enxergada" em muitas localidades. Em regiões periféricas com capacitação adequada de profissionais de saúde, o número de diagnósticos aumenta significativamente. Ou seja, falta treinamento.
O Brasil ainda regista casos de “desdiagnóstico” de hanseníase por serviços ou profissionais de saúde que desconhecem a doença.
Preconceito
Em 2019, a SBH entregou em mãos à relatora das Nações Unidas para a “Eliminação do Preconceito contra Pessoas Afetadas pela Hanseníase e seus Familiares”, Alice Cruz, um documento de 40 páginas relatando todos os tipos de preconceito praticados no Brasil.
O problema é tão grave que muitos pacientes se tratam sem informar a família, crianças são afastadas da escola, pessoas perdem o trabalho ou são excluídas do convívio social e até familiar. O relatório denuncia, por exemplo, editais de contratação que proíbem a participação de pessoas afetadas, mesmo que estejam em tratamento e não transmitam a doença.
Leia o relatório da SBH
Novo esquema terapêutico
Uma equipe liderada pelo dermatologista e hansenologista Marco Andrey Cipriani Frade (Ribeirão Preto-SP) desenvolveu um novo esquema terapêutico, combinando antibióticos já utilizados no mercado, com menos reações adversas que a PQT e maior eficácia na cura da hanseníase.
O estudo, publicado em 2025 na Revista Brasileira de Doenças Infecciosas, acompanhou 66 pacientes de 2015 a 2023. Eles apresentaram melhora rápida dos danos neurológicos, com recuperação da sensibilidade nas mãos e pés já no terceiro mês, e evolução progressiva mantida após o tratamento.
A nova proposta utiliza rifampicina, moxifloxacino, claritromicina e minociclina, com o objetivo não só de eliminar o Mycobacterium leprae, mas também de promover a recuperação mais eficaz da sensibilidade da pele e dos nervos, reduzindo as chances de incapacidades físicas.
A CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) está avaliando a adoção do novo esquema.
4 mil anos antes da Era Comum
A hanseníase foi citada pela primeira vez em papiros há mais de 6.000 anos. Vale lembrar que, naquela época, não havia classificação das doenças e, por muitos séculos, pessoas com doenças de pele eram chamadas de leprosas.
A palavra "lepra" vem do grego antigo λέπρα, que significa escama, pele em escamas. Também há relatos sobre a lepra em textos bíblicos, como uma doença que desfigurava as pessoas e também com conotação de “impureza” ou pecado, estigma que ainda hoje existe.
Sem tratamento ou cura, uma lei de 1940 estabeleceu a internação compulsória de pacientes em colônias, chamadas leprosários — hoje, muitas dessas instituições tornaram-se hospitais especializados em hanseníase e preservam essa história em bibliotecas ou museus. Havia também os preventórios, colônias de internação compulsória para filhos de pessoas com hanseníase, mesmo que essas crianças não estivessem doentes.
O isolamento compulsório durou até os anos 1980 e tinha como objetivo conter a proliferação da doença. Contudo, pessoas que viveram nessas colônias relatam que a vida fora delas era ainda mais difícil por causa do preconceito e perseguições.
São confiáveis?
“Os números dos casos de hanseníase são confiáveis?” — esse é o título de um artigo publicado na The Lancet Infectious Diseases, em fevereiro de 2018, por um grupo de hansenologistas da SBH. No artigo, os autores questionam autoridades internacionais sobre o reduzido número de diagnósticos em países com condições sanitárias e socioeconômicas piores que as do Brasil. Eles alertam para o problema das “regiões silenciosas”, onde a hanseníase continua a se espalhar sem controle.
Questionário de Suspeição de Hanseníase
Desenvolvido na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP, o Questionário de Suspeição de Hanseníase (QSH) tem 14 perguntas com respostas "sim" ou "não". Adotado pelo SUS, ele tem contribuído significativamente no enfrentamento da doença e já foi premiado como ação em favor do sistema público de saúde.
Em linguagem didática, o QSH permite a identificação de sinais e sintomas da hanseníase que também podem ocorrer em outras doenças, sendo uma ferramenta revolucionária para a busca ativa de casos no Brasil. Qualquer pessoa alfabetizada — inclusive crianças — pode e deve responder ao questionário e apresentá-lo ao médico.
Primeiro município a avaliar 100% da população acima de 5 anos
A cidade de Tambaú (SP) foi a primeira do país a avaliar 100% da população com mais de cinco anos de idade para hanseníase utilizando o QSH.
Inteligência artificial aplicada à hanseníase
A triagem manual dos questionários (QSH), que consome tempo, já pode ser feita pelo MaLeSQs, um sistema de inteligência artificial capaz de identificar padrões de respostas e apontar casos suspeitos. O MaLeSQs analisa milhares de QSH por hora e apresenta taxa de assertividade semelhante à das análises manuais. Desenvolvido em pesquisa na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP.
Campanha "Todos contra a Hanseníase"
Desde 2015, a SBH realiza a campanha educativa Todos contra a Hanseníase, com ênfase especial no mês de janeiro — o Janeiro Roxo, dedicado à conscientização sobre a doença. A campanha está presente na televisão, em painéis nas rodovias e em unidades de saúde de todo o país.
A ação é mantida apenas com parcerias com empresas e organizações. É uma campanha de baixo custo e altamente replicável, servindo como modelo para outros países onde a hanseníase ainda é um problema de saúde pública.
Congresso Mundial no Brasil
Em 9 de julho de 2025, durante o Congresso Mundial de Hanseníase em Bali (Indonésia), o Brasil foi escolhido como sede da próxima edição do evento, em 2028. A cidade do Rio de Janeiro será anfitriã do Congresso Mundial de Hanseníase, organizado pela International Leprosy Association (ILA). O sucesso da candidatura se deve às políticas brasileiras no enfrentamento da doença e ao trabalho contínuo da SBH.
Exemplo de enfrentamento à hanseníase
O Brasil é considerado referência mundial no enfrentamento à hanseníase. Entre as ações de destaque:
Podcast
O tema da hanseníase está apresentado em cinco episódios do podcast À Flor da Pele, que aborda desde a história da doença até os avanços mais recentes no diagnóstico e tratamento.
Episódios:
Siglas
Conheça as datas, resultados e outras informações sobre as provas realizadas pela SBH.
Aqui você encontra nossos editais e convocações para associados. Acompanhe essas e outras informações.
Conheça as açoes e campanhas que realizamos por todo o país para levar conhecimento sobre a Hanseníase.
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