Hansenologistas brasileiros lutam para impedir o encurtamento do tratamento para a hanseníase. Eles alertam que o modelo proposto pelo governo brasileiro foi rejeitado em outros países
A Indian Association of Dermatologists, Venereologists and Leprologists (IADVL), sociedade indiana com mais de 10 mil médicos filiados, oficializou, na última semana, apoio à Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) na luta contra a implantação do MDT-U (Multidroga Terapia – Esquema Único), proposto pelo Ministério da Saúde do Brasil, que objetiva encurtar e padronizar o tratamento para todos os pacientes de hanseníase em território nacional.
A SBH divulgou, no início do ano, manifesto de seis páginas explicando todos os motivos pelos quais é contra a implantação do MDT-U no Brasil (veja documento na íntegra: bit.ly/manifestoSBH) .
Atualmente, o tratamento aos pacientes de hanseníase pode levar de seis meses (ou seis doses), para pacientes com poucos bacilos, a dois anos ou mais, para os pacientes com muitos bacilos. “Este não é o único motivo pelo qual somos contra o tratamento padronizado em seis doses para todos os pacientes”, alerta Claudio Salgado, presidente da SBH, médico dermatologista e hansenólogo, professor na Universidade Federal do Pará, doutor em Imunologia da Pele pela Universidade de Tóquio/Japão. “As drogas disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) são as mesmas usadas há 40 anos e é alto o índice de resistência, sem contar que o MDT-U não foi implantado em nenhum país até hoje”, alerta.
Em 2017, o governo indiano tentou implantar o MDT-U, mas a reação dos milhares de médicos da IADVL impediu a mudança no tratamento da hanseníase no país. Na última semana, o médico Narasimha Rao, presidente da entidade indiana, publicou opinião contundente em apoio à SBH no Leprosy Mailing List, blog que reúne os maiores especialistas de todo o mundo para discutir políticas, estudos e pesquisas relativos à hanseníase. “Esperamos sensibilizar o governo brasileiro para podermos garantir tratamento digno e avançar para o controle da doença no país”, alerta Salgado.
O manifesto da SBH já recebeu apoio da Associação Médica Brasileira (AMB), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com Ênfase em Hanseníase do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto USP, Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária e Hanseníase do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Uberlândia, do médico Paulo Velho, representante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva no Comitê Técnico Assessor da hanseníase no Ministério da Saúde, além de ligas de dermatologia e hansenologia brasileiras. Além disso, a Organização Mundial de Saúde já disponibilizou ao público em geral as últimas diretrizes para o tratamento da hanseníase, que são contra a implantação do MDT-U por ausência de dados científicos robustos.
Alerta
Os hansenologistas da SBH alertam para o risco de o MDT-U contribuir para esconder uma endemia que cresce silenciosamente. Com o esquema proposto pelo governo brasileiro, a doença não será efetivamente curada, nem a endemia controlada, alertam. “O Brasil ainda diagnostica tardiamente a hanseníase; os serviços de atenção básica à saúde não ‘enxergam’ a hanseníase e quando identificam a doença, o paciente já tem sequelas graves e, irreversíveis, sem contar o alto índice de crianças menores de 15 anos com hanseníase, o que indica que o bacilo está circulando muito na comunidade”, resume Salgado.
A SBH acredita que existam até cinco vezes mais casos da doença do que apontam os números oficiais. “O motivo é simples e óbvio”, aponta o presidente da SBH. Segundo ele, em todas as localidades onde a entidade promove capacitação ou treinamento para profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, dentre outros, a taxa de detecção de casos novos aumenta expressivamente. Há inúmeros exemplos no país de municípios com histórico de poucos casos de hanseníase, mas que estão hoje dentre as cidades com os mais altos índices do país por causa de capacitação dos profissionais para diagnóstico.
Hanseníase no Brasil
Brasil é o segundo país com mais casos da doença – atrás da Índia. São cerca de 30.000 diagnósticos por ano (número próximo às notificações de HIV/AIDS). Hanseníase é uma doença transmitida por um bacilo de pessoa contaminada para outra saudável por meio de contatos próximos.
O doente pode apresentar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas pela pele e ter diminuição ou perda de sensibilidade em algumas partes do corpo. O bacilo afeta os nervos e compromete a capacidade de segurar objetos ou realizar atividades simples e rotineiras. A doença tem cura e o tratamento é gratuito em todo o país.
Porém, a sociedade (profissionais de saúde, educadores, autoridades e mesmo universidades) acredita que a hanseníase esteja controlada no Brasil, o que levou ao alto índice de casos pela falta de educação para o tema e capacitação dos serviços públicos e privados de saúde.
No Brasil, o tratamento é feito com os antibióticos Rifampicina e Dapsona, para pacientes paucibacilares (com poucos bacilos) e, ainda a Clofazimina, adicionada para pacientes multibacilares. Os casos mais graves são tratados por até dois anos, mas é alto o índice de “falência de tratamento” ou resistência aos medicamentos no Brasil, pois essas mesmas drogas são usadas há quase quatro décadas e estudos científicos mostram índice crescente de resistência do bacilo às drogas antigas.
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