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Especialistas discutem sequelas por hanseníase no Congresso de Hansenologia em Vitória

Publicação: 07/12/2022

Segundo país em número de casos de hanseníase, o Brasil enfrenta uma série de problemas decorrentes deste cenário que comprometem não apenas a saúde, mas o trabalho, a educação de crianças, a qualidade de vida de pacientes e seus familiares e a vida econômica de inúmeras das famílias. É preocupante o número de afastamentos temporários ou permanentes de trabalhadores incapacitados para o trabalho por hanseníase no INSS, tema que está no 16º Congresso Brasileiro de Hansenologia, de 7 a 10 de dezembro, em Vitória/ES.

A fisioterapeuta Terezinha Filha, da Unidade de Referência Especializada Marcello Candia, localizada em Marituba/Pará (ex-colônia de pacientes de hanseníase), mestre em Doenças Tropicais pela UFPA, alerta que as incapacidades e todos os problemas sociais consequentes poderiam ser evitados porque a doença tem cura. “A hanseníase é provocada por um bacilo que atua agredindo os nervos periféricos. Quanto mais rápido o diagnóstico, menor a chance de progressão do processo inflamatório nos nervos que pode levar a incapacidades temporárias ou definitivas”, diz.

Mas o país tem milhares de doentes sem diagnóstico sofrendo e transmitindo a hanseníase a seus comunicantes, tem alertado a SBH-Sociedade Brasileira de Hansenologia a autoridades brasileiras e estrangeiras. “Quando o paciente percebe diminuição da sensibilidade nas mãos ou nos pés ele já tem fibras nervosas comprometidas nessas regiões”, explica Terezinha.

A fisioterapeuta Thania Loiola Cordeiro Abi Rached, doutora pela Faculdade de Medicina-USP Ribeirão Preto, ressalta que é preocupante o número de diagnósticos tardios no Brasil, quando a doença já está em estágio visível e avançado. “O paciente chega com deformações nos pés, mãos, face, orelhas, com mãos em forma de garras, pés caídos e perda de movimentos com incapacidade para o trabalho”.

Segundo o Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2022, 19.963 casos novos da doença foram diagnosticados no Brasil de 2011 a 2020 com grau 2 de incapacidade física, ou seja, com sequelas irreversíveis e incapacitantes. O boletim do Ministério da Saúde fala em 7,1% de casos novos de hanseníase diagnosticados já com grau 2 em 2011 e 10% em 2020. O documento ressalta que a proporção de casos novos de hanseníase diagnosticados com grau 2 é um importante indicador de diagnóstico tardio no país.

Também é preocupante muitos casos diagnosticados em crianças menores de 15 anos. Como a hanseníase é uma doença silenciosa, que leva dois ou mais anos para se manifestar, o diagnóstico em crianças é um importante indicador epidemiológico. “Isso mostra que desde cedo esses jovens estão em contato com a doença, provavelmente dentro de casa”, explica Claudio Salgado, presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia, realizadora do 16º Congresso Brasileiro de Hansenologia.

Atuando em regiões com realidades bastante diferentes, as fisioterapeutas Thania, em Ribeirão Preto/SP, e Terezinha, em Marituba/PA, relatam o mesmo cenário quando se trata da hanseníase: pacientes que sofrem por um conjunto de sinais e sintomas da doença como dores pelo corpo, diminuição ou perda de sensibilidade em algumas áreas do corpo gerando dificuldades de toda ordem para segurar objetos ou desempenhar funções simples, mal-estar geral e um histórico de passagens por serviços de saúde com diagnósticos variados para outras doenças que não a hanseníase, tratamentos malsucedidos e desesperança.

Se o paciente é diagnosticado precocemente, a hanseníase pode ser curada sem sequelas e um protocolo de reabilitação de funções motoras pode ser bem-sucedido para reverter o processo de instalação de sequelas.

Mas, não é raro o paciente que tem seu diagnóstico para a hanseníase confirmado depois que as sequelas não são mais reversíveis e ele inicia uma nova jornada com terapias de reabilitação e uma vida com órteses ou próteses para auxiliarem na locomoção e no desempenho de algumas atividades mecânicas.

A isso segue-se uma série de problemas de ordem social que serão debatidos no congresso da SBH, em uma mesa-redonda com vários especialistas e movimentos sociais.

Mesa-redonda
As fisioterapeutas Thania Loiola Cordeiro Abi Rached (doutora pela Faculdade de Medicina-USP Ribeirão Preto) e Terezinha Filha (Unidade de Referência Especializada Marcello Candia, Marituba, Pará – ex-colônia de pacientes com hanseníase) coordenam a mesa-redonda “Prevenção de Incapacidades e Reabilitação em Hanseníase” no dia 9, das 8h às 10h. A mesa terá as palestras:
-Vigilância da deficiência física em hanseníase - fisioterapeuta Carmelita Ribeiro Filha Coriolano (Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde)
-Hanseníase e suas alterações no equilíbrio e risco de queda - Thania Loiola Cordeiro Abi Rached
-Avanços e Desafios nas estratégias de reabilitação socioeconômica para pessoas afetadas pela hanseníase – Projeto BioHans em Rondônia - Marize Ventin (NHR Brasil, Pernambuco-PE)
-Tecnologia assistiva e suas aplicações na hanseníase - Susilene Maria Tonelli Nardi (IAL - São José do Rio Preto/SP)
-A importância da família na reabilitação das pessoas atingidas pela Hanseníase - Thiago Flores (MORHAN/MG – Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase)

O 16º Congresso Brasileiro de Hansenologia tem apoio do Ministério da Saúde, CNPQ-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e OPAS-Organização Pan-Americana da Saúde.

AGENDA
16º Congresso Brasileiro de Hansenologia
Data:
7 a 10/12
Local: Hotel Sheraton Vitória – Vitória ES
www.sbhansenologiacom.br

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