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Orientações para pessoas atingidas pela hanseníase durante a pandemia COVID-19

Publicação: 06/04/2020
Orientações para pessoas atingidas pela hanseníase durante a pandemia COVID-19

É necessário garantir tratamento adequado da hanseníase e das reações, prevenir incapacidades e diminuir os riscos de contágio pelo coronavírus

A COVID-19 é uma doença causada por um vírus chamado corona, e é daí que vem o nome: Doença pelo VÍrus COrona, e 19 do ano de 2019 (COVID-19), quando começou na China, disseminando-se para o resto do mundo.

O vírus da COVID-19 entra no seu corpo quando você respira sem proteção perto de alguém com a doença. É altamente contagioso e pode sobreviver por horas a dias em superfícies, como mesas e cadeiras ou outros objetos. O vírus passa pelas vias aéreas até chegar aos pulmões, um dos principais órgãos afetados.

Febre, tosse e falta de ar são os principais sintomas. No entanto, como a doença é completamente nova, os médicos e os outros profissionais da saúde ainda estão aprendendo a lidar com ela, mas já se sabe que pessoas com outras doenças podem ter um risco maior de desenvolver complicações.

A hanseníase é uma doença causada pelo Mycobacterium leprae, que entra nos nervos periféricos, causando inflamação, com perda da sensibilidade e das suas funções.

Então, como os médicos acreditam que a doença de Hansen e a COVID-19 podem interagir?

Uma doença pode interagir com a outra e os sintomas podem vir de qualquer uma delas. Portanto, é importante que o seu médico seja informado de que você tem ou teve hanseníase, bem como se você está usando algum medicamento relacionado à hanseníase, sejam antibióticos, como os da poliquimioterapia (PQT) ou medicamentos para tratar reações.Com isso, trazemos aqui algumas orientações para que VOCÊ e a EQUIPE DE SAÚDE DE SUA UNIDADE possam garantir seu atendimento com qualidade:

  1. Poliquimioterapia (PQT). Para a PQT durante a pandemia do COVID-19, os pacientes deveriam, na medida do possível, receber as cartelas para 2 ou 3 meses, a fim de evitar ir aos serviços de saúde, que já poderão estar cheios de pessoas que procuram ajuda por conta da COVID-19. As pessoas afetadas pela hanseníase e suas organizações devem requerer aos serviços de saúde a garantia da entrega adequada da PQT, sem que sejam colocadas em risco de contrair a COVID-19.
    É por isso que a entrega de blisters de PQT para 2 ou 3 meses é uma boa estratégia. Caso não seja possível por questões técnicas, como a ausência de blisters em estoque, especialmente os pacientes idosos, que apresentem outras doenças, como por exemplo hipertensão e/ou diabetes ou aqueles imunossuprimidos, devem enviar outra pessoa à unidade de saúde para receber os medicamentos, ou deverão receber em domicílio, caso não seja possível enviar um representante.
  2. Referências. As referências e serviços especializados em hanseníase devem manter suas portas abertas para diagnosticar novos casos e para responder às emergências da hanseníase, a fim de evitar sofrimento adicional e a piora ou a instalação de novas incapacidades físicas.
    Profissionais da saúde devem usar equipamentos de proteção individual (EPI) para se protegerem, assim como para protegerem os pacientes do risco de adquirirem a COVID-19. Caso você seja atendido por profissionais de saúde totalmente protegidos, entenda que essa proteção não tem nada a ver com a hanseníase, mas com a COVID-19. Água e sabão ou álcool gel para assepsia das mãos e para desinfetar as superfícies devem estar disponíveis nos serviços de saúde, em geral.
  3. A DAPSONA, o comprimido branquinho da cartela da PQT, um dos medicamentos para tratar a hanseníase, pode causar falta de ar grave e cansaço devido à anemia que o medicamento pode causar em alguns pacientes. Lembre-se de que a COVID-19 pode evoluir com falta de ar e isso pode confundir o seu médico, que deve estar atento para diferenciar a origem dessa falta de ar.
  4. Reações. As reações da hanseníase devem ser tratadas como situações de emergência. Dependendo do tipo de reação, você pode precisar de medicamentos ou mesmo de cirurgia para controlar a dor e a degeneração dos nervos. Os serviços de saúde especializados devem fornecer seus tratamentos no tempo adequado.
    Os principais medicamentos utilizados são corticosteroides e a talidomida que agem no seu sistema de defesa (sistema imunológico), e isso pode ser importante no curso da COVID-19. O seu médico talvez precise trocar esses medicamentos ou alterar as suas dosagens, conforme sua situação específica, com a possibilidade de você também poder se infectar pelo coronavírus e desenvolver a COVID-19, pois você poderá ser considerado como um paciente imunossuprimido e do grupo de risco para COVID-19. Lembre-se de que a talidomida não pode ser usada durante a gravidez.
  5. Coinfecção. As consequências da coinfecção da hanseníase com tuberculose ou HIV e COVID-19 são desconhecidas, assim como a superposição da hanseníase, gravidez e COVID-19. As pessoas nessas condições devem estar mais alertas a novos sintomas e solicitar ajuda médica, quando necessário.
  6. Fisioterapia e autocuidados. A fisioterapia e a terapia ocupacional podem ser continuadas em casa. Os grupos de autocuidado, com a interrupção obrigatória de suas atividades presenciais, devem tentar manter as suas atividades e os encontros pela internet via computadores e celulares durante a pandemia.
    Cuide bem da sua saúde mental durante esta crise e, se você realmente precisar de apoio, tente entrar em contato com qualquer organização de ajuda que trabalha na sua comunidade. Organizações de pessoas atingidas pela hanseníase e organizações não governamentais (ONGs) devem se certificar que as pessoas atingidas receberão não apenas ajuda material, mas também assistência psicossocial durante a crise da COVID-19.
  7. Cirurgias, produtos auxiliares e curativos. Se a cirurgia for necessária, a fim de evitar mais incapacidade ou sofrimento, o serviço de saúde poderá ter que realizá-la. Você deve discutir isso com a equipe médica e garantir que seus direitos sejam salvaguardados. A produção e entrega de órteses e próteses devem ser mantidas, dependendo da situação do sistema de saúde nesta crise. Materiais de curativos podem ser dados ao paciente para cuidar de suas feridas em casa. As ONGs podem desempenhar um papel importante, colaborando para que a reabilitação e o fornecimento de dispositivos auxiliares, como órteses e próteses, sejam mantidos.
  8. Ambientes saudáveis e higiene. A crise do COVID-19 mostra a importância de ambientes saudáveis ​​na manutenção da saúde, prevenindo doenças como a hanseníase e a COVID-19. Condições de higiene, acesso a alimentos e água potável, bem como cuidados básicos de saúde devem ser garantidos a todas as pessoas, inclusive àquelas que convivem com a hanseníase. As pessoas mais velhas afetadas pela hanseníase são também um grupo-alvo de medidas protetivas contra a COVID-19.

Ressaltamos a importância dos determinantes sociais da hanseníase na saúde da população brasileira e mundial. A crise da COVID-19 evidencia a importância da promoção da saúde, através da melhoria das condições de vida da população, que inclui o acesso de todos aos serviços de saúde, como proposto pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

05 de abril de 2020
 

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